Ártico

domingo, 22 de novembro de 2015

NÃO, ESTE POST NÃO É SOBRE STAR WARS, MAS SOBRE O LADO NEGRO DA ECONOMIA COLABORATIVA.

Estamos pertinho do lançamento de Star Wars 7, mas vale a pena reparar que um fenômeno tão nocivo quanto a dominação do Império já está em curso, com pouquíssimos Jedis para combatê-lo: é o que Neal Gorenfo, do movimento Resilience, chama de crescimento das "Estrelas da Morte". Entre elas, Uber, PayPal e Airbnb.

Aproveitando a despolitização que é característica da Geração Milênio, aliada à tecnologia via web e mobile, gigantescas plataformas peer-to-peer escondem bilionárias estruturas monopolistas, que estão arrasando setores econômicos inteiros. A comodidade dos serviços, sua costumeira superioridade em termos de qualidade e um preço mais reduzido são, de fato, atraentes para o usuário. Do lado do provedor (motoristas, donos de imóveis, sites de e-commerce), os ganhos são marginalmente maiores e a sensação de autonomia também (livres de cooperativas sanguessugas com tarifas de adesão exorbitantes, meios de pagamento com taxas acima do mercado e a possibilidade de maximizar o uso de um cômodo ou imóvel ocioso e fazer mais receita direta). 

Mas não podemos nos enganar: esse sistema não é dos provedores dos serviços, e sim dos intermediários donos da plataforma tecnológica, as Estrelas da Morte. Que com isso não têm um rosto e não precisam de funcionários nem bens físicos para prover o serviço final (o transporte, a acomodação, o pagamento). Portanto, se aliviam de uma pesada estrutura física e tributária (a maior parte da tecnologia é emprestada de P&D financiado pelo Governo/contribuintes em universidades), em troca de gigantescas margens de lucro, atuam num vácuo político e o mais perigoso para a galáxia: acumulam PODER. Para colocar em números, o Uber captou US$ 8 bilhões de venture capital para sua operação, faturou US$ 10 milhões em 2015 e atingiu o valor de mercado de US$ 51 bilhões, deixando o Facebook lá para trás. Já destruiu a estrutura de taxis de pelo menos 300 cidades no mundo (por isso tem sido combatido e proibido em tantas outras). Peter Thiel, fundador do PayPal, declarou ao Wall Street Journal em 2014 que "competição é para perdedores", defendendo abertamente o monopólio. O Airbnb vai pelo mesmo caminho. Robin Chase, fundador do Zipcar, diz que tudo que puder virar uma plataforma, vai virar. O Vale do Silício é a nova sede do Império. 

 As cifras que essas Estrelas da Morte investem em lobby são assustadoras. E criaram uma abordagem inteligentíssima: quanto mais polêmica e embates contra, mais consumidores, defensores e mídia conseguem. Se você já está assustado com o quanto as grandes corporações atuais usam suas informações pessoais por meio de algoritmos invasivos, espere até que essas "meta-corporações" sejam as donas de setores inteiros. Qualquer um com um pouquinho de conhecimento de sistemas complexos sabe que diversidade é fundamental para um sistema ser resiliente (ou seja, resistir a choques e voltar ao seu estado original). 


Então, antes de celebrarmos a autonomia dos indivíduos transformados em empreendedores de si mesmos, vale cautela. Felizmente, há uma alternativa para que isso seja, de fato, uma realidade, longe das mãos das novas meta-corporações virtuais que ambicionam poder sem limites e dominação setorial, plutocratas acima da lei. Sim, são as Plataformas Cooperativas, que compartilham valor com todos aqueles que produzem esse valor - e os provedores são os próprios donos da estrutura. Essa Aliança Rebelde está no começo, com grandes desafios jurídicos e tributários, e teve uma conferência específica com mais de 1.000 inscritos para avançar no tema agora em Novembro (http://platformcoop.net).

Exemplos de serviços, alguns ainda em versão beta, outros em fase de incubadora, em com variados padrões de estrutura: Loconomics, Enspiral, Lazooz, Swarm, ShareTribe, GNUSocial. O grande desafio, por serem propostas de economia colaborativa extra-inovadoras e por vezes ainda difíceis de compreender, será a corrida contra o tempo (já que a velocidade das Estrelas da Morte é grande) e a capacidade de prover um serviço de alta qualidade (hoje o grande diferencial das meta-corporações). O valor social e o seguimento dos Princípios Rochdale (que regem o mundo do cooperativismo - https://en.wikipedia.org/wiki/Rochdale_Principles), são boas vantagens das Plataformas Cooperativas. 

Se quiser mais detalhes como pontos de alavancagem para a diferenciação de Plataformas Cooperativas, leia mais em http://www.resilience.org/stories/2015-11-06/how-platform-coops-can-beat-death-stars-like-uber-to-create-a-real-sharing-economy.