Ártico

terça-feira, 30 de junho de 2009

Incentivo ou Despotismo Cultural ?


(Contribuição de João Touma, da SAGRE CONSULTORIA - Elaboração e Gestão de Projetos Culturais - joaotouma@sagre.com.br e www.sagre.com.br )


O setor cultural está em pé de guerra. As mudanças propostas pelo atual ministro Juca Ferreira na Lei Rouanet estão deixando muita gente preocupada com os rumos da produção cultural brasileira. Atualmente a Lei permite que pessoas físicas e jurídicas destinem 6% e 4% respectivamente do seu IR para financiar projetos culturais, aprovados pelo MinC.

Para combater a centralização de recursos no eixo Rio-SP, o MinC propõe mudanças na lei, como “Fundos Setoriais” administrados pelo Governo e o “Vale Cultura”, além de novas faixas de renúncia fiscal para o Mecenato (as empresas é que selecionam os projetos que irão patrocinar). Hoje só há duas faixas (30% e 100%), com um critério de aprovação simples e objetivo: o segmento cultural, não permitindo qualquer análise subjetiva quanto ao mérito do projeto. Na nova Lei seriam 30%, 60%, 70%, 80%, 90% e 100% e quem determinará quanto cada projeto terá de isenção serão os novos Conselhos Setoriais.

Sem critérios pré-definidos, eles irão determinar o percentual de renúncia de cada projeto segundo o “interesse público”, critério pra lá de subjetivo e que arrepia os produtores, temendo o chamado “dirigismo cultural”, ou seja, os projetos de interesse do Governo (e dos amigos do Governo) terão maior renúncia, em detrimento dos demais. Apesar das negativas enfáticas do MinC, não há qualquer argumento que possa garantir que isso não vá ocorrer.

Analisando friamente, esta aparente concentração é relativa, afinal muitos proponentes que candidatam projetos à Lei Rouanet (e os aprovam) não batalham patrocínio, não têm condições técnicas de realizar o que propõem e terminam engrossando a estatística dos “projetos sem captação”.

Desde sua criação a Lei distribuiu aproximadamente R$ 8 bilhões. Em 2008 foram 14.400 apoiadores, um recorde histórico, em sua grande maioria empresas, que a cada ano aprendem a utilizar os mecanismos de fomento e aumentam o valor investido na Cultura. Nos últimos anos, a renúncia fiscal do Governo Federal para a Lei Rouanet subiu de R$ 200 milhões para R$ 1,2 bilhão em 2008 (dados do MinC).

Ao acabar com o modelo vigente de incentivos fiscais o Ministério estará centralizando as decisões sobre como e onde investir o dinheiro dos impostos. O Governo estará dando um “tiro no pé”: a desconfiança dos patrocinadores poderá emperrar a roda que movimenta a economia da cultura, gerando ainda mais desemprego e falta de oportunidades no Setor Cultural.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

[SOCIAL] A sobrevivência da espécie humana depende de voltarmos a ser humanos


Fiz questão de buscar várias teorias científicas consagradas no meio acadêmico, ambientalista e empresarial para embasar o que mais ouvi durante os dois importantes eventos dos quais participei – a “Conferência Internacional Ethos 2009/Rumo a uma nova Economia Global” e o “UnoMarketing/Comunicação Consciente”. Não se falou de outra coisa: CONEXÃO e CONSCIÊNCIA.

O psicólogo Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia em 2002, cunhou o termo Ciência Hedônica – estudo daquilo que torna a vida prazerosa ou não. Seus colegas Nobel, Joseph Stieglitz e Amartya Sem, trabalham para criar um “indicador de felicidade” como medida econômica para substituir o PIB. O escritor e futurista Erwin Lazlo defende que o velho paradigma da Conquista, Consumo e Colonização está se auto-destruindo, e um novo paradigma está emergindo: Conexão, Compreensão e Cooperação. A “Carta da Terra” construída durante seis anos via cooperação multidisciplinar e global fala de amor, felicidade e cuidado. Ken Wilber, criador da “Psicologia Integral”, em 97 foi considerado pelo jornal alemão Die Welt "o maior pensador no campo da evolução da consciência" e com sua “Teoria de Tudo” propõe um meta-modelo do conhecimento que unifique e estruture físico, vida, mente, alma e espírito, e portanto negócios, política, ciência e espiritualidade. Afinal, um consumidor, um executivo e um político são, antes de tudo, seres humanos com valores, espiritualidade, desejos, sonhos e sentimentos.

Isto foi apenas para preparar seu espírito para os conceitos apresentados pelo filósofo Bernardo Toro: “Quando a sobrevivência da espécie está em risco, desaparecem discussões ideológicas e fronteiras geográficas”. Só vamos sobreviver mudando totalmente o eixo de nosso comportamento e construindo uma nova ética baseada em RESPEITO e CUIDADO.

CUIDADO com o corpo (saúde, estética, expressão corporal), com o espírito (autoconhecimento, auto-estima, autonomia, controle dos sentimentos negativos, ter um projeto de vida) e com os outros (vínculos familiares, amigos, amores, redes de apoio social e profissional, organizações civis). É urgente mudar a forma como enxergamos nosso intelecto: um bem privativo que nos dá proteção e vantagem competitiva, a inteligência escolar tradicional. Ao invés, renunciar à pressão guerreira por desempenho e adotar um “altruísmo cognitivo”, questionando e refletindo sobre a realidade, sendo criativos, solidários, aprendendo a pedir ajuda e informação, fonte de moldagem do nosso caráter.

RESPEITO na forma de lidar com os outros, buscando equidade, solidariedade, formação e participação política e cuidando dos bens públicos. Claro, cuidar do planeta, adotando os 3 Rs (Reutilizar, Reciclar, Reduzir), agora austeridade é chique !

Para isso precisamos adotar três providências simples: CONVERSAR (falar a verdade, com fundamento, sinceridade e precisão), ESCUTAR (estar aberto a outras versões) e fazer SILÊNCIO (refletir). Cada um de nós é um observador diferente da realidade e não existe verdade absoluta, o que seria uma violência, uma imposição. E se toda empresa é um sistema de relacionamentos, então é de conversas – internas e externas. Nesse âmbito, buscar transações ganha-ganha; saber criar valor econômico e ético simultaneamente (Coopetência); produzir bens úteis, dignos, sustentáveis; aumentar qualidade e diminuir obsolescência; estimular consumo sustentável; e exigir transparência do Estado.

Confesso que saí com a cabeça fervilhando, porque se numa reunião do PIB nacional que reuniu 1.600 pessoas alinhadas com o fato de uma nova economia não ser opcional porque o estado do mundo é crítico, essas questões estão sendo vistas como viáveis e necessárias, logo, um tsunami de mudanças está vindo por aí.

terça-feira, 16 de junho de 2009

[PLANETA] Abaixo o PIB e Feliz Já !


Estamos roubando o futuro, vendendo-o no presente e chamando de PIB” é a frase emblemática do escritor Paul Hawken, que propôs o Capitalismo Natural. Em 2004 o ambientalista Lester Brown e Hugo Penteado, economista-chefe do Banco Real, já chamavam atenção para a Eco-Economia e a necessidade de incorporar os passivos ambientais e sociais aos balanços financeiros. Em 2008 Nikolas Sarkozy criou a Comissão para Mensuração do Desenvolvimento Econômico e Progresso Social, liderada por dois Prêmios Nobel de Economia (Joseph Stiglitz e Amartya Sen), para propôr um indicador que possa substituir de forma confiável o PIB e superar a evidente dissonância entre os “números mágicos” da Economia clássica e os fluxos de capital especulativo de um lado e a vida real, o bem-estar e a felicidade humana de outro. O PIB é apenas quantitativo: trata de medir a área de cuidados com a saúde pela venda de serviços médicos e medicamentos, em vez do número de pessoas saudáveis.

Veja só: o PIB dos EUA triplicou desde 1950, mas sua Pegada Ecológica é de 10 planetas, aumentou o número de divórcios, suicídio adolescente, crimes, depressão e 1 em cada 100 americanos está na prisão (maior população carcerária do mundo). Pesquisa de Ed Diener (Univ. Illinois) com os homens mais ricos da Forbes apontou um nível de felicidade igual ao dos Amish, esquimós Inuits e africanos Masai, comprovando o “Easterlin Paradox”, onde a curva de felicidade começa a decrescer após o ponto onde atingimos o “suficiente”, porque entramos numa escalada de não nos conformarmos com o que temos e buscar sempre mais, substituindo um vazio existencial com o consumo de bens.

Uma nova economia demanda novas medidas. E a proposta da hora é o FIB – Felicidade Interna Bruta, que incorpora elementos como uso equilibrado do tempo, fruição de cultura, proteção ambiental, vitalidade comunitária, bom padrão econômico, educação, saúde e boa governança. Ou seja, inclui dimensões subjetivas e não-materiais. Já se fala em expandir o “Triple Bottom Line” de Elkington para 9 dimensões. O Projeto FIB Brasil liderado pela Unicamp trabalha nesse sentido. E antes que você pense ser “papo-cabeça”, o reino do Butão já adota há anos uma medida semelhante por decisão governamental e é considerado um caso de vanguarda mundial.

[PLANETA] Varejo unido turbina a causa da Sustentabilidade



Tenho insistido que é irreal esperar dos consumidores a pressão central para os fabricantes se mexerem, porque não somos capazes de resgatar toda a cadeia produtiva (e portanto a responsabilidade) de cada produto que consumimos. Mas agora um torniquete real apertou na garganta das empresas: as três maiores redes varejistas do país – Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart se uniram e não vão aceitar fornecedores anti-ecológicos. A começar pelos frigoríficos cuja carne contribui para o desmatamento da Amazônia, para fazer pasto. Essa iniciativa foi viabilizada pelo relatório “Farra do Boi” produzido pelo Greenpeace, que expôs toda a cadeia produtiva da carne. O Wal-Mart já faz auditoria socioambiental de todos os fornecedores de quem compra acima de um determinado volume. O Pão de Açúcar tem gôndolas de Comércio Solidário, produtos de comunidades locais e ONGs, além de ter criado sua marca própria TAEQ de bem-estar (cama, banho, alimentos e higiene). Todos vêm aumentando seu portfolio de produtos orgânicos e naturais.

Outras providências interessantes estão sendo adotadas: a substituição das sacolas plásticas por eco-bags. Entre 500 bilhões e 1 trilhão de sacos plásticos são consumidos/ano no mundo e menos de 1% é reciclado, porque é mais caro reciclar que produzir um novo. Logo, 4 milhões de quilos acaba no oceano, em regiões tão distantes como o Círculo Ártico e as Ilhas Malvinas, matando animais marinhos sufocados ou intoxicados. A eco-bag do Carrefour já está em 112 lojas ao preço de R$ 2,99 e economizou 10% de sacolas plásticas; a do Pão de Açúcar é parceria com a S.O.S. Mata Atlântica, para a qual reverte fundos.

O Wal-Mart Supercenter Granja Vianna é uma eco-loja modelo onde se gasta -17% de energia com ar condicionado (usando vidros reflexivos, uma “Parede Verde” vegetal, calibragem do equipamento na área de perecíveis) e com iluminação (lâmpadas eficientes e clarabóias). Usam -12% de água através de recaptação de águas pluviais e tratamento de esgoto, além de terem no entorno uma área de preservação, estacionamento com piso de concregrama e selo da LEED de construção sustentável.



A eco-loja Pão de Açúcar Indaiatuba tem estacionamento engajado, com placas que sinalizam preferência por carros flex, clientes que fazem reciclagem e usuários de bicicleta. Todas as gôndolas são de madeira de reflorestamento certificada pelo FSC, as bandejas de isopor foram susbtituídas por de fécula de mandioca, na entrada externa há um “Painel de Sustentabilidade” com todas as estatísticas dos ganhos ecológicos da loja e uma “Estação de Reciclagem” em parceria com a Unilever para coleta seletiva, inclusive de biodiesel. Junto aos Caixas, há uma “Caixa Verde” onde o cliente já pode descartar suas embalagens recicláveis antes mesmo de pagar a conta. E a loja neutraliza todas as suas emissões de CO2. Várias dessas ações já estão em outras lojas da rede.









Semana passada a convite da ABAP fiz palestra sobre “Varejo Sustentável” e quero enfatizar a grande importância que esse setor tem para a causa da Sustentabilidade, inclusive educativa, contribuindo para uma mudança cultural em todos os níveis: fornecedores, funcionários e consumidores.